segunda-feira, 8 de julho de 2013

CATÁSTASE

Digo?
Divago
vago
vagando
disto
dividido
vagar,
devagar
demora
voltar
divagando
volta
digo:
de dó
voltar...


Diego D.
Dedicado
J. C.
A. A.


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quinta-feira, 4 de julho de 2013

CÉU VERMELHO



Quando te vejo
de tardinha
trazendo um céu
vermelho
eu esqueço
que ao saíres
tudo fica negro
e só me perco
na melancolia
deste pensamento;
mantenho o segredo
que tu já sabes
e faço assim um véu
do céu de estrelas
que vem depois
de partires
meu coração
em pedaços
mas enlaço
e respiro
teu céu vermelho
e dentro de mim
tudo fica sem fim
até que te vejo

À tardinha...

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quarta-feira, 3 de julho de 2013

OS OLHOS DOS ÓCULOS



Teus óculos
uma graça em forma
de armação e vidro
tem harmonia
com teu rosto mágico,
as pálpebras fecham
os óculos sorriem,
os olhos se abrem
e os óculos brilham,
olham, dançam...
Quanta simplicidade
de luz e sensibilidade,
perfeição vítrea,
quem dera os visse
além dos olhos e óculos
o que transforma a essência
da mágica em beleza,
diria ao mundo por inteiro
a resposta está em ti:
Carol Pinheiro


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terça-feira, 2 de julho de 2013

TRABALHO



Terminara pontualmente todo seu atraso, julgara já ter compensado sua falta de tino por chegar com meia hora de atraso no escritório, todavia, os olhares lançados por todos colidiam sempre no mal estar ocasionado por tal fuga e para D. significava que deveria proporcionar algum tipo de reparação a fim de igualar os ânimos com seus colegas de trabalho. Por isso naquela manhã, ao invés de providenciar os despachos, se dispusera a assentar-se na copa e degustar um chá gelado o qual apreciava muito pouco. Todas as suas intenções diante de tal ato era parecer acessível, coisa que não condizia com a realidade, abrindo espaço e margem para os favores que tencionava realizar: um acréscimo de quinze minutos na pausa do almoço, uma aceleração em alguma licitação e quando muito, pois pensava vagamente em tal atitude, um abono de falta. Certo que não era nenhum chefe, mas todos esses processos passavam pela sua mesa de modo que estava a par de todas as faltas cometidas por seus camaradas, todas as vezes em que deixaram de cumprir propriamente o que a empresa exigia. Quando a incidência não era grande de bom grado D. deixava passar essas falhas, em parte porque não gostava de chamá-los em sua sala para ouvir reprimendas a cerca de tal comportamento e em outra porque nem ligava para tais coisas, a empresa queria apenas o lucro e desta parte D. nunca se descuidava e era enfático quando alguma falta perturbasse o bom andamento da máquina, agora quando isso não significava grande coisa, quando muito somente uma reposição de sono ou desleixo tranquilamente podia deixar-se passar. O fato de que naquela manhã específica tudo estivesse nublado e os goles de vinho tivessem surtido um efeito animador e ao mesmo tempo desesperado, se retinha ali naquela mesa onde ninguém parecia importar-se com sua presença. D. estava cansado daquilo por isso se retirara e não recebera ninguém, executara com extrema rapidez toda a sua rotina e viu-se só bem no meio da máquina que devia alimentar, se surpreendeu consigo mesmo, era ao mesmo tempo o alimento e quem alimentava a máquina, seus subordinados apenas traziam-no as oferendas mas o próprio D. era quem devia fazer a cerimônia e em seguida sacrificar-se em prol de seu bom funcionamento, neste processo quem se desgastava era somente D. pois trazia consigo a dor e o insumo para o bem da maioria, sentiu uma raiva terrível e se visse alguém era capaz de lhe acertar um murro tamanha revolta, as pessoas que o viam como um vilão eram as que mais se beneficiavam de sua vilania, não entendia e tampouco suportava tal configuração mas não tinha forças para lutar contra ela, pôs de lado um copo de rum que não tinha idéia de quando viera parar na sua mão e recostado sobre a vidraça refletia; o que se passara? Onde deixara faltar o que não o preenchia? Até pouco tempo sua vida era uma sombra de perfeição, incorporara todo o espírito do século e agora via o quanto este espírito ou mais uma edificação estava comida pela ferrugem e hora ou outra tudo iria sucumbir, inclusive ele. Poderia ser essa constatação que gerava aquela ânsia de vazio que lhe devorava as entranhas e crescia-lhe na garganta? Não, havia outra coisa mais profunda, algo que não vinha dele próprio ou se viesse, sua consciência não detectava, um tipo de parasita que passara muito tempo habitando seu corpo e agora estava totalmente adaptado e escondido das defesas, algo com um quê de insuperável, um abismo dentro de si que o chamava e sua voz era sedutora; o seduzia e sua sedução era encantadora; o encantava e tal encanto era veneno; o envenenava pois não tinha como resistir a tal veneno. De repente jogou tais pensamentos de lado; não era correto gastar o tempo de seu trabalho nestes absurdos, porém não podia simplesmente abandonar aquilo que sentia por aquilo que necessitava e tinha obrigação de cumprir seus deveres, pensara que aquela era a sua primeira falta e pra um dia que começara no devaneio cometer outro não teria uma influência direta no seu resultado, não seria mais ou menos errado por causa disso, ao contrário, pela causa é que estava errado e quanto mais rápido resolvesse tanto mais rápido e eficiente poderia alimentar de novo a máquina; pegara sua pasta e chapéu e sem se despedir de ninguém, sem bater o ponto retornara a rua que o enxertara naquela situação; seu telefone tocara insistentemente todo este tempo até cair na secretária eletrônica, era J. que perguntava onde estaria na hora do almoço...


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segunda-feira, 1 de julho de 2013

RELÓGIO



Acordara cedo, sem saber o porquê estava diante de si mesmo nas primeiras horas da manhã nublada que se apresentara sem motivo aparente, como se a imagem que refletia no espelho se expandisse pra realidade do enfim, abatera-se de imediato, constatara que ainda tinha longas horas até que seu próximo compromisso lhe atasse as mãos e sentira uma vontade irrealizável de voltar a cama, o que não foi possível posto não haver nenhuma cama pois a mesma se retirara logo após o seu levantar movida por algum outro anfitrião que ocupava sua sala de estar, pensara estar delirando no seu quarto vazio e abriu a janela afim de deixar o céu entrar na sua fechada existência, mas ao passo em que abrir significava aquiescer com o universo  o mesmo não poderia ser para dentro de si mesmo; acontecera de que ao encontrar-se ali, e faltando tantas horas, o ainda, as reticências, o não acontecido passara a ter uma importância insuperável e quanto mais pensava assim ainda mais a hora achava em estender-se, como se pudesse o presente surrupiar tempo do futuro, procurara na mesa de escritório onde mantinha os papeis do seu divórcio algum contrato onde regulasse o poder que aquelas horas vazias pudesse exercer sobre ele porém viu-se sem nenhum tipo de papel então restara esquecer aquela vontade e infantil e dedicar-se em preparar-se para as horas que ainda viriam, despira suas vestimentas e tomara um longo banho quente, uma parte deste longo banho foi dedicada a reflexões, não queria demorar-se pouco e ao sair, constatar que ainda restava muito tempo pra ser gasto tampouco queria delongar demais tal aplicação e perder-se desnecessariamente no tempo que gastava, acabara sem perceber quando saiu do banheiro e acordara novamente já com seu termo e gravata, olhara o relógio e por algum tempo não conseguira acreditar nos próprios olhos: o tempo não passara; limpou as lentes dos óculos com um produto próprio que comprara a pouco tempo, não adiantava, tudo estava lá, sem troca entre os ponteiros, tudo aquilo se resumia em horas ainda a serem gastas, logo viu-se todo vestido e tentou lembrar quando acontecera de estar em pé, com uma xícara de café quente sentado numa cadeira distante, resultara um desespero que estava oculto dentro de si mesmo: não lembrava-se de nada daquilo, todo o momento era um instante de “estar” dentro de um verbo que nada realizava, que na verdade nada significava, tudo que lhe era importante, seus afazeres, seu bom nome estava ligado com aquelas horas que tinha de honrar e cumprir, com o relógio parado não poderia fazer nada, não era nada, seu compromisso nunca chegaria e não poderia dar ordens e remeter os ofícios, estava tudo acabado; tirara os óculos e pusera perto da xícara já vazia, pegara da sua adega um vinho, queria doce mas só tinha amargo, pôs-se a sorver grandes quantidades de maneira avulsa, já não queria mais pensar em nada daquilo, queria somente “estar” de novo nas coisas que fazia, deixar levar-se pela correnteza do obvio e dilacerar-se entre as mil coisas sem aparência que compunham sua normalidade , seu caráter, seu modo de existir já que assim sentia-se invadido por uma ideia sem nome, algo que crescia sem controle dentro dele e que devia, urgentemente, afogar em vinho ou em qualquer outra coisa forte, queimar de dentro pra fora com seu um cigarro importado ou seu cachimbo da Tailândia, qualquer coisa que o fizesse retornar deste caminho réprobo anuviado nas sem horas que ainda restavam e ali, com a casa toda nublada, seu ser nublado e ainda restando horas e horas pra serem gastas resolvera sair pra rua pra andar, o destino seus pés saberiam pois sua cabeça ainda estava naquelas nuvens; não percebera que ao atravessar o portão J. chegava com uma sacola de pão e as pilhas pro relógio...


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quinta-feira, 27 de junho de 2013

JOÃO E MARIA



          Maria era João
João era Maria
João assim vivia
A vida de Maria.

Maria forte e violenta
João sensível e carinhoso
Maria ríspida e corpulenta
João tísico e voluptuoso.

João prometeu-se
na primeira oportunidade
pra uma moça pobre
que colhia trigo nos campos.
Maria viu tratar-se
da moça que a noite
se vendia por queijo.

Demoveu-lhe de sua ilusão.
Desde então passara a ser frio.
Maria culpou-se e pra ajudar o irmão
lhe trouxe as vadias
que tão bem conhecia.

Tiveram então uma noite
que esgotara a vida de João.
Pediu pra Maria assim:
“Vive por mim, vive por mim
tem minha gratidão.”

Maria enterrou-o no jazigo
perto das flores de acácia
e viu-se terrivelmente só
como nunca estivera até então.
“O que vai ser de mim” pensou Maria
sem meu querido João?

Tateou algo na casa
que não tinha o jeito de João:
os vasos de flores secas,
as pedras coloridas dentro dos copos
vazios... Vazia era Maria
como tudo no mundo masculino
seus trajes, seu fumo, seu corpo
transparecia a figura doce
do seu morto e delicado irmão.

Maria queria pegá-lo do céu
tirá-lo lá daquele paraíso
por puro egoísmo
e medo de tudo que sentia

Procurou no mundo uma magia
nas trevas algum caminho
e por entre pedras e espinhos
foi perdendo sua veia masculina.

Penteava os cabelos, batom nos lábios
enquanto caminhava procurava
imprimir um novo passo
diferente daquele que andava

Foi quando percebeu ter um corpo seu
e os prazeres dos quais lhe resultava
não requeriam nada mais do que especulava
durante seus devaneios de emoção

E seu coração encheu-se de luz e pensou:
Como então meu irmão me amou!
Deu-me sua vida para que eu descobrisse
A beleza que antes de mim existisse

Foi-se embora como figura celestial
Expurgado daqui pelo mal
Do bem maior que nunca fizera
Flagelar-se por esta matéria!

Uma luz envolveu-a e não estava mais só.
Desapareceu na luz do décimo quinto
Aniversário de morte de João.


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quarta-feira, 26 de junho de 2013

DIGESCTIVO



Tanto tempo 
de ausência 
que tua presença
me é estranha;
entranha
nas tripas
da trama
o que extirpa
da alma
desabrigada,
Lívida embrulha
a bulha
no meu estômago,
é o medo
devorando
em segredo
o que era teu...



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